António Mota
Quando vem a noite

Quando vem a noite

A chuva cai.

Se cai de mansinho

Não oiço nada.

Mas se cai apressada

ouço-a bater

nas telhas do telhado

que fica zangado

por ter de acordar

de madrugada.

 

– Para onde vais, chuva?

Pergunto eu, estremunhado.

 

E ela responde

Sempre a correr,

Sempre apressada:

 

– Vou lavar as ruas

praças e calçadas

vou regar as flores

os prados e montes

vou matar a sede

aos bichos da terra

e dar um abraço

a todas as fontes.

Estendo a mão

e fica molhada.

 

Lá se foi a chuva

sempre apressada.