Fernando Miguel Alves Mendes
VULTO

Um vulto negro, grandioso e temerário

Atrás do meu corpo, surgindo

Como se viesse de um passado primário.

 

Num arrepio insensível, leve e temporário,

Trazendo o mistério no seu presente findo;

Invadindo as muralhas inacabadas do que sinto

E descendo pelas colinas desse movimento contrário.

 

E tapou-me os olhos, com as suas mãos de solidez incarnal,

De um longínquo astral, de um volátil universo moral.

E cada poema que escreva é uma vã adivinha do nome desse vulto…

 

Para mim, este estilhaçar de tempo é mais do que um jogo de adivinhas,

Porque, de quem as suas mãos são mais do que um vulto, um culto,

O seu mistério ainda não me segredou que são as minhas.