Ela afaga os seus vestidos, devagar oleia o corpo para enfrentar a vergasta do tempo que há-de vir. É uma mulher bela e de coração azul onde as crianças pequenas têm ninho sem saberem. Em vigília espera os filhos que na noite se embrenharam, atraídos pelo néon, pelo odor a incontinência. Os seus cabelos de oiro penteia ao fim do dia e afeiçoa o corpo branco às inclinações do lume. É uma mulher que sabe ainda o teu nome no escuro. Uma mulher que sai à rua e inaugura a primavera.
Espuma. Porto: Edições Eterogémeas, 2001