João Pedro Mésseder
[Um azul não se canta impunemente…]

Um azul não se canta impunemente…

Promete a folha em branco, sem o traço

que a véspera gravou a lápis de aço

à hora de se andar por entre a gente.

 

De manhã a frescura lava as nódoas,

a luz declina um nome: recomeço,

e a vida esquece já o seu avesso

quando o olhar nas alturas perde o norte.

 

Basta a aragem, um gorjeio, odor a pão

e o corpo desdobrando-se na lenta

alegria da humana condição.

 

Mas a vida não cede, já se sente

pela tarde o ameaço de trovão…

Não se canta um azul impunemente.

 

 

A Doença das Cores seguido de Ilhas de Deus

Braga: Poética, 2016