Regressar não se concretiza com passos ao contrário.
Nunca se regressa ao ponto de origem, ao ponto de partida.
Regressar não é um acto feito de movimento contrário à vida,
Não há retroceder no tempo e no espaço sobre o chão vário.
Nunca se passa duas vezes pelo mesmo sítio, real ou imaginário.
Não se pode nunca partir novamente da estância perdida.
Não se pode repetir uma única frase, mil vezes repetida,
Derrubar a mesma árvore, chorar o mesmo choro chorado.
Nunca se passa duas vezes com o mesmo corpo pela mesma porta.
Na mesma cama, o mesmo corpo nunca se deita duas vezes.
A primeira vez é uma cascata derradeira sob o infinito.
A água que escorra pelo precipício é a ideia que a cascata suporta
Não a mesma água caindo.
Se assim fosse não haveria uma única linha, embora torta,
Que esbocasse, inteira e impoluta, um grande círculo
Onde o sol nunca regressaria, jamais um único dia,
E, nessa luz intensa, se deitasse muitas vezes.