Quando eu escrever um texto
sobre o meu cão,
hei-de preencher mais de mil linhas.
Embora eu nunca tenha contado mil linhas
acho que mil linhas, devem ser linhas
e mais linhas e mais linhas e mais linhas.
Quando eu escrever um texto
sobre o meu cão,
hei-de usar um lápis novo
com o bico muito bem afiado.
E prometo que não começo a rilhá-lo
Para descobrir o gosto bom da madeira
Quando eu escrever um texto
sobre o meu cão,
hei-de escolher um caderno novo
com folhas brancas .
Brancas como o açúcar branco
brancas como a farinha branca
brancas como o feijão branco
(embora eu goste mais de feijão preto)
brancas como a neve
(embora eu nunca tenha pegado em neve).
Quando eu escrever um texto
sobre o meu cão,
hei-de sentar-me na mesa da cozinha
junto do meu cão.
e depois começarei a escrever
muito concentrado.
Se não conseguir escrever nada engraçado
já sei quem é o culpado:
é o meu cão, que não me deixa escrever
sempre a pedir-me o lápis,
se calhar pensando que aquilo é
um gelado encarnado.
Agora reparo que já escrevi imenso
E ainda não disse nada sobre o meu cão.
O meu cão é espectacular.
Anda sempre atrás de mim
dorme na sala de aula
entra na cantina
na papelaria
no carro
no comboio
no cacilheiro
no autocarro
na caixa do correio
na minha mochila
no hipermercado.
O meu cão é extraordinário
Pode ter o tamanho de um touro
ou ser mais pequeno que um rato.
E em dias de muito sol
ganha asas e voa como as borboletas
rindo como um palhaço.
O meu cão é especial.
Já foi polícia e bombeiro
e guiou uma ambulância do 112 B
( o 112 B
salva todos os bichos
apedrejados
maltratados
atropelados
abandonados.)
O meu cão é sensacional:
não precisa de comer
não pede uma bola para brincar
não precisa de beber
não quer um osso para roer.
O meu cão ainda não tem nome.
E eu não quero que ele se chame
leão, bobi, lulu,
fofinho, joli, furão
e outros nomes estranhos.
O meu cão ainda não tem nome.
Mas eu sei que é
o cão mais verdadeiro
mais bonito e companheiro
da minha imaginação.