Fernando Miguel Alves Mendes
TRÍPTICO

I.

Onde estou,

O que sinto;

Sou o que é

Tudo o que digo?

 

Quem assim se sente,

 - o que sentem,

quem são -

no que não conheço estão.

 

E se sabem, então,

O que são,

o que sentem,

 

Como eu,

 Nada dirão

 Ou mentem.

 

II.

Só como eu

Eu só sou

Sem como

Seja só meu.

 

Meu,

Como ninguém,

Nesse alguém,

Só o é.

 

Só de silêncio,

Nesse nada

É meu.

 

Dessa solidão,

Nem tudo

Meu é só.

 

 

III.

a poesia não tem ser, corpo ou espírito

não tem peso, não tem cheiro e paladar

não tem pele, olhos e olhar

não tem céu, bruma ou grito

a poesia não tem amo, ama ou amar

não tem tempo, espaço ou sítio

não tem rosto, rasto, resto ou físico

não tem memória, história ou sonhar

a poesia não dorme, não come,

não chora nem ri

nem tampouco tem-se a si

a poesia não tem sede nem fome

a poesia não tem nome

só te tem a ti.